Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela
Escola de Vela Oceano
No final dos anos 90 tive oportunidade de dividir espaço com uma fábrica de velas de Porto Alegre e esta experiência embasa o tema de hoje.
Eu estava reformando minha nova sala de aula e precisava de um local para instalar a secretaria da escola até concluir o trabalho.
O ambiente artesanal de uma oficina de velas tinha muita ligação com a minha infância e adolescência de velejador e a ideia de trabalhar ao lado de um dos caras que mais entendia daquilo no Brasil me encantava.
Após algumas semanas o meu dia já estava dividido entre as aulas de vela e o estágio informal em todas as etapas do processo de fabricação (da medição aos acabamentos).
Na sequência comecei a percorrer os clubes fazendo a instalação das velas e dos sistemas (lazijack e enrolador).
Raramente o proprietário se fazia presente na hora da instalação e era normal surgirem dúvidas nas primeiras velejadas.
Subir a vela grande da maneira correta sempre foi um problema para quem está começando a velejar e até mesmo gente mais antiga se atrapalha de vez em quando.
A dúvida mais comum com a genoa era o excesso de força exigido para enrolar e também o fato dela ficar mal enrolada (com partes brancas expostas).
Ao contrário da genoa de enrolador, que abre em qualquer posição em relação ao vento, a vela grande apresenta dificuldade em subir se o barco não estiver aproado.
É possível subir o grande com o barco fora da zona morta (próximo a ela) somente se a escota estiver toda folgada. Se você não dominar esta técnica é mais seguro aproar o barco.
Tão importante quanto adquirir a técnica para subir e baixar a vela grande é você conhecer as consequências de uma manobra mal executada.
Desgaste prematuro do tecido, quebra de peças e até rasgos são as consequências mais comuns.
Na genoa a consequência do mal fechamento é a exposição de partes da vela aos raios ultra violeta e o risco posterior de uma abertura involuntária (ventos fortes/muito fortes).
Criei um passo a passo para tornar mais fácil a subida da vela grande (com slides):
1.Aproar o barco.
2.Folgar o burro.
3. Folgar a escota.
4. Subir a vela com atenção na passagem das talas pelas adriças do lazyjack.
5. Dar a tensão necessária na adriça.
6. Folgar o amantilho.
7. Encostar o burro (pré-tensionar).
8. Ajustar o amantilho novamente.
Para subir uma vela sem carrinhos (testa entralhada) é necessário que um tripulante guie o entralhamento na canaleta, enquanto o outro caça a adriça. É possível fazer sozinho, porém é mais trabalhoso.
Se houver um tripulante disponível para “dar bomba na adriça”, junto ao mastro, melhor…
Procedimentos para baixar a vela:
1. Aproar o barco.
2. Tripulante junto ao mastro pronto para puxar a vela para baixo (vela com slides).
3. Folgar a escota do grande.
4. Abrir o stopper e liberar a adriça.
5. Organizar a vela dentro da capa, puxando a valuma em direção à popa (para tirar as dobras amassadas).
As velas com carrinhos roletados descem praticamente sozinhas.
As velas com entralhamento devem ser puxadas manualmente.
Se não houver tripulante para ficar junto ao mastro, a mesma pessoa que está no stopper deverá se dirigir ao mastro.
Procedimentos para enrolar a genoa com ventos médios a fortes:
1. Empopar o barco e tentar esconder a vela atrás do grande, pois a pressão na vela é infinitamente menor do que em qualquer outro ângulo.
2. Caçar o cabo do enrolador e dar tensão na escota para o rolo ficar ajustado.
3. Dar duas voltas completas das escotas ao redor da vela enrolada.
4. Prender com firmeza e cuidado o cabo do enrolador (stopper, cunho, mordedor etc).
Em dias de vento fraco, o ângulo do barco em relação ao vento não fará diferença no peso da genoa ao ser enrolada.