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Prof. Marcelo Visintainer Lopes

terça-feira, 31 de março de 2020

Ganhando dinheiro com barcos. Parte 1 - Prestação de Serviços

Por Marcelo Visintainer Lopes – Escola de Vela Oceano

Instrutor de Vela e Consultor Náutico


Muita gente me pergunta se é possível ganhar a vida trabalhando na área náutica.
Eu sou o próprio exemplo disto. Trabalho exclusivamente com a vela a mais de 30 anos e conheço várias pessoas que também se ocupam de maneira parecida com a minha.


Vejo dois caminhos

O primeiro é utilizando o próprio veleiro.
O segundo é prestando serviços para terceiros.
As duas opções são bem remuneradas, já que há escassez de serviços em todas as áreas.

A primeira atitude a ser tomada é buscar a qualificação profissional e algumas especializações (se julgar necessário).
O importante é que seja em alguma área que lhe dê mais prazer em trabalhar.

Se você ainda não tem barco e não está inserido no meio náutico, o trabalho inicial é fazer relacionamentos. De nada adianta você estar apto a prestar o serviço se ninguém o conhece.

Depois disto a dica é buscar marinas e clubes de vela e colocar a cara.
Conversar, apresentar suas qualificações e oferecer os seus serviços.

Seus primeiros trabalhos serão os mais importantes, pois será através deles que as primeiras indicações aparecerão.
Também será através deles que você terá os primeiros materiais de endosso (fotos, vídeos e testemunhos dos clientes).
Este marco é importante, já que você ainda não tem nenhuma outra experiência comprovada e nem pessoas que possam atestar a qualidade do seu serviço.

Se você já presta serviço em áreas não ligadas ao mercado náutica tente aproveitar as suas experiências da melhor maneira. Às vezes basta uma pequena adaptação na forma e na técnica que você já sai executando serviços de qualidade.
Esta experiência anterior poderá lhe dar um bom empurrão no início.
A prestação de serviço náutico é minuciosa e muito particular. Todo o compromisso é pouco para garantir boas indicações.
Raramente encontramos pessoas desconhecidas oferecendo serviços na web.
Jamais eu contrataria um instalador hidráulico se eu não tivesse boas indicações do seu serviço.
Proprietários de veleiros são muito cuidadosos e não entregam seu patrimônio na mão de qualquer desconhecido.

Os serviços náuticos encontram-se concentrados basicamente na marinas e nos clubes de vela e é ali que o seu foco deve estar.
Se você estiver longe da estrutura de uma marina ou clube poderá oferecer seus serviços para todos os seus vizinhos de ancoragem.
Pegue o seu bote de apoio e se apresente como o vizinho de ancoragem que trabalha na manutenção de ...


Tipos de manutenção

Costurar velas e capotaria, fazer almofadas e trocar estofamentos, fazer vedações, aplicação de teka sintética, manutenção de motor de popa, manutenção de motor de centro, instalações e manutenções elétricas, instalações e manutenções hidráulicas, carpintaria, solda, limpeza de convés, limpeza interna, limpeza de costado, lubrificação de peças, troca de cabos, lixar, pintar e polir o casco, aplicação de verniz interno e externo e por aí vai...


Mergulho

O mergulho é um dos trabalhos mais requisitados no meio náutico.
São muitos os serviços para se fazer em baixo d’água:
Limpeza de casco, desentupimentos, manutenção preventiva, reparos na fibra, troca de hélice, troca de anôdos de sacrifício, achar coisas perdidas etc.
Com o mergulho, além de você gerar lucro trabalhando para terceiros, também conseguirá diminuir os seus próprios custos de manutenção e de alimentação.

É bom você ter ciência que o dinheiro como moeda é mais comum de ser usado em terra firme.
Seus vizinhos de ancoragem poderão trabalhar com outras formas não convencionais de pagamento e isto é muito normal.
Acostume-se com isto e muitos benefícios virão na carona da solidariedade!




domingo, 29 de março de 2020

Meu primeiro barco - os 7 erros mais comuns na hora da compra



Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela Oceânica e Consultor Náutico


O auge da produção de veleiros no Brasil ocorreu nas décadas de 80 e 90 e são estes mesmos barcos que continuam dominando o mercado de usados até hoje.
A maior parte dos estaleiros desta época encerrou suas atividades e poucos estaleiros novos surgiram.
A constatação desta desigualdade é que o número de barcos produzidos dos anos 2000 até hoje é muito menor do que os produzidos no passado.
Sendo assim, a busca pelo barco ideal, principalmente o “primeiro barco”, passa a ser um trabalho de garimpo.
É necessário olhar muitos barcos para encontrar um que esteja em boas condições. Estamos falando de barcos com mais de 30 anos.
Por serem encontrados em menor número, os barcos mais novos tendem a sair mais rápido da “prateleira”.
Embora sejam comercializados mais rapidamente, não existe nenhuma garantia de são mais bem construídos que os antigos.
Muitas vezes é preferível comprar um barco antigo do que um mais recente produzido por um “estaleiro de fundo de quintal”.

Normalmente quem está buscando o seu “primeiro veleiro” ainda não possui conhecimento suficiente sobre marcas e modelos.
Antes de comprar um carro você faz uma grande pesquisa buscando descobrir as avaliações técnicas e as reclamações recorrentes.
No mercado de barcos não funciona assim. Quem compra um veleiro de procedência duvidosa, muitas vezes nem fica sabendo disto.
Os poucos comentários encontrados na web limitam-se ao desempenho, conforto, estética e outras coisas que não são relevantes na avaliação técnica.
Quando uma pessoa está olhando um barco para comprar, normalmente sua avaliação baseia-se naquilo que “mais salta aos olhos” como as madeiras bem envernizadas, os estofamentos e os instrumentos eletrônicos (mesmo que obsoletos).
A parte estrutural passa desapercebida e a maioria dos defeitos mais graves também.




Foi pensando nisto que criei uma lista com os erros mais comuns na avaliação.

1.Barcos abandonados

Primeiro exemplo
É cada vez mais comum encontrarmos veleiros “abandonados” pelos pátios da cidade e parar o carro para descobrir alguma coisa sobre eles é muito tentador. Confesso que já fiz isto inúmeras vezes.
Sempre temos a impressão de que poderão ser renovados facilmente.
Se o barco estiver à venda por um valor que considere justo, você vai dar um jeito de levá-lo para casa no mesmo dia.
Sua esposa vai adorar a surpresa! Rsrsrsrsrs
Onde está o problema?
O impulso da compra impede você de avaliar tecnicamente o que realmente interessa que é a integridade do casco e dos demais equipamentos.
Pessoas “normais” não conseguem enxergar o que há escondido por baixo da estrutura toda.
Velejadores com mais experiência avaliam a estrutura e já calculam o valor aproximado da reforma.
Toda a precaução nesta hora é importante, pois o impulso pode levar você a comprar um barco condenado.

Os demais componentes
Barcos velhos normalmente apresentam corrosão galvânica nos perfis de mastro e retranca e dependendo do estado, a substituição é a única solução.
Se o motor não estiver 100%, o custo de aquisição de um novo poderá passar da metade do valor barco ou até mais.
Velas, cabos e estaiamento são passíveis de troca, mas somando tudo é possível que a conta chegue próxima de um veleiro pronto (sem nada pra fazer).


Segundo exemplo
Você encontra um barco em situação parecida com a anterior só que desta vez trata-se de uma construção artesanal (barco feito em casa).
Não há nada de errado com a cultura da construção artesanal. A única exigência é que o projetista seja conhecido e que o projeto seja executado à risca.
Quem constrói seu próprio veleiro sente um orgulho enorme em ter conseguido executar o projeto do início ao fim.
O que frustra a maioria dos construtores artesanais é sempre o custo final.
Quase sempre o valor investido daria para comprar um barco novo ou semi novo do mesmo tamanho ou até maior.
O segundo detalhe é a desvalorização no momento da venda, pois existe uma diferença grande entre o seu custo final e o valor percebido (valor de mercado).


2.Recall
Alguns barcos produzidos no Brasil apresentam problemas recorrentes.
A diferença entre a fabricação de barcos e a fabricação de carros é que as fábricas de automóveis são obrigadas a comunicar os proprietários sobre problemas mais graves e os estaleiros não.
Você conhece algum modelo de veleiro que já apresentou problemas recorrentes?
Eu conheço vários...
Se você não conhece nenhuma pessoa com conhecimento do mercado náutico eu aconselho que você se dirija até uma marina e converse com o pessoal de manutenção (especialmente fibra e pintura). É a melhor maneira para descobrir a verdade sobre os estaleiros. Este pessoal sabe tudo sobre a resistência dos cascos e vão contar a você quais são os modelos mais fortes e os mais fracos.
Como eles acompanham o içamento dos barcos para cima das carretas ou para apoiá-los sobre a quilha (quando ficam no chão), sabem direitinho “onde o nó aperta”.
A notícia boa é que existem poucos modelos que apresentam problemas!
Não desista!!


3.O barco não atendeu suas expectativas

Você percebeu que...
- Balança muito
- Não consegue se acomodar - ele é muito apertado
- Não tem banheiro
- A cozinha é muito pequena
- Ele é muito lento - faz médias inferiores a 5 nós
- Ele é grande demais e que é necessário fazer muita força para velejar
- Ele é muito pequeno e nervoso.
- Ele faz uns barulhos e ringidos estranhos

Barcos pequenos (12 a 23 pés em média) não foram concebidos para proporcionar conforto ao velejar.
Muitos deles não foram pensados para navegar no mar, só em lagoas e lagos.
Se você não se importar de tomar uma onda ou outra na cara eu não vejo muito problema, mas antes pesquise sobre o tipo de água para qual o barco foi construído.

Veleiros com problemas estruturais costumam ringir de verdade. Quanto mais vento e ondas, mas ringidos aparecem.
Pode ser a porta de armário ou a porta de uma cabine. Até aí nenhum absurdo. O problema é quando as anteparas (tipo paredes internas que possuem a função estrutural) começam a se deslocar.
Estes barulhos aparecem quando o barco sofre algum tipo de deformação. Pode ser no encontro com as ondas, na ação do vento mais forte refletindo nas velas e outros. Elas estão previstas no projeto e os reforços estruturais servem exatamente para isto.
Só não podem ocorrer ao ponto de provocar descolamentos de materiais ou delaminações na fibra.


4.Comprou um pequeno, mas poderia ter comprado um maior
A única exigência para comprar o barco do tamanho definitivo é você ter a certeza absoluta que gosta de velejar.
As trocas por modelos maiores só geram perda de tempo e de dinheiro. Tempo para conseguir vender (pode demorar bastante) e talvez algum dinheiro com a depreciação.
Muitos velejadores gostam de falar que devemos começar pelo pequeno e depois ir subindo. Isto é coisa do passado, onde o acesso ao dinheiro era mais difícil e para trocar de barco o cara tinha que ser bem de vida.
Existia também a cultura equivocada que dizia que aprender no pequeno te dá “sensibilidade”. De fato, se você aprender no pequeno conhecerá com mais facilidade as tendências de um barco maior, só que isto só vai funcionar até um determinado tamanho de barco.
A sensibilidade que você adquiriu velejando em um Laser por exemplo, não encontra lugar em um veleiro acima de 30 pés e com roda de leme.
Se os processos de ensino da vela contemplassem este raciocínio pedagógico você seria “obrigado” a passar primeiro pelo monotipo para depois acessar os cursos de vela oceânica.
Definitivamente não é assim que funciona. Se fosse assim as escolas de vela não teriam cursos de iniciação à vela oceânica disponíveis para adultos sem experiência.
Velejadores com experiência em classes menores (monotipos) velejam em qualquer tipo de barco, sem a necessidade de passarem por cursos mais avançados.


5.Aprender por conta própria
Sempre digo a mesma coisa em relação a este tipo de atitude: se você estiver sozinho a bordo o problema será só seu!
A irresponsabilidade começa quando você coloca outras pessoas no mesmo barco.
Essa não é a atitude mais sensata e segura a ser tomada, pois manobras equivocadas costumam causar sérios acidentes a bordo.
Velejar é prática e repetição continuada assistida por um profissional.
O resto é perda de tempo e negligência com a segurança da tripulação.
Tutoriais na internet não ensinam a velejar. É impossível aprender a comandar um veleiro oceânico sem uma pessoa mais experiente ao seu lado.
Ao longo dos meus 45 anos de vela tenho acompanhado a difícil trajetória de quem fez esta escolha. O que eu posso relatar é que elas continuam tensas, inseguras e cometendo os mesmos erros de sempre.


6.Barco “zero km” é garantia de qualidade?
A resposta é sim, desde que o estaleiro possua responsabilidade com os seus clientes.
Se você não tiver boas referências é melhor comprar um barco mais antigo, mas com procedência garantida.
Existem alguns (poucos) estaleiros que utilizam processos de laminação duvidosos e empregam pouca quantidade de material, diminuindo a resistência estrutural. Este o mais antigo e o mais imoral artifício utilizado para a redução de custos.
Geralmente são barcos com valores atrativos, porém inadequados para velejar com segurança.
Estaleiros deste tipo poderiam produzir caixas d’água e piscinas, mas veleiros nunca!
Você já ouviu falar de algum assim?


7.Comprar um veleiro e guardá-lo na garagem
Veleiros oceânicos de quilha fixa não foram criados para ficar longe da água.
Você deve procurar locais com vagas molhadas, rampa com guincho ou trator ou que possuam sistemas de içamento com pau de carga ou travel lift.
Veleiros de até uns 23 pés com bolina ou quilha retrátil podem ser guardados em casa com mais facilidade.
Uma coisa é guardar e a outra é velejar.
A vontade de velejar vai diminuindo gradativamente em função da trabalheira toda...
Deslocar o barco até uma rampa, baixar, montar, guardar o carro e a carreta em algum local seguro, velejar, desmontar, buscar o carro, subir e levar de volta para casa...
Ufa! Cansei só de falar o passo a passo, imagina lá na hora?
Você só aproveitará um veleiro de verdade se ele permanecer na água ou bem perto dela!
Existem clubes e marinas que mantém os barcos em seco, mas daí o trabalho de colocar e tirar é todo deles.
Nestes casos não há necessidade de tirar e colocar o mastro.
Antes de bater o martelo na compra do veleiro você deve pesquisar sobre as possibilidades de guarda (marina ou clube).
O bom mesmo é ir fazendo a busca do barco e da vaga em paralelo.
No caso do clube, não compre o título sem antes saber se existe vaga para o barco e sem antes conhecer bem o estatuto.
Pode acontecer de você adquirir o título e não haver disponibilidade dentro d’água e também pode acontecer de você querer morar a bordo e o estatuto não permitir.
Se for uma marina, descubra se a estrutura é capaz de atender suas necessidades bem como se os horários de atendimento condizem com os seus horários de utilização do barco.
Se você está pensando em viver a bordo, busque um local abrigado de todos os ventos e longe de ondas.
Minha marina é um bom exemplo disto. Ela fica no bairro de Santo Antônio de Lisboa em Florianópolis.
O local é bem protegido de norte a sudeste, porém completamente aberto de sul a noroeste.
Para morar no barco é preferível ficar longe de uma estrutura de marina, mas abrigado em uma boa enseada.

sábado, 28 de março de 2020

Como aprender a velejar por Marcelo Visintainer Lopes


COMO APRENDER A VELEJAR DA MANEIRA CORRETA

Por Marcelo Visintainer Lopes – Escola de Vela Oceano
Instrutor de Vela e Consultor Náutico

Aprender a velejar requer disciplina, foco e disposição.
Como instrutor de vela (28 mil horas/aula) tenho a convicção de que o melhor caminho é através de escolas que utilizem padrões formais de ensino e que apresentem conteúdo e carga horária compatíveis com os diferentes níveis de cursos.

Navegando em mares desconhecidos
Adquirir um veleiro sem ajuda e começar a velejar sozinho são duas práticas muito comuns entre os brasileiros.
Aprender sozinho é muito duro e desgastante e não será um tutorial do Youtube que vai ajudar você a sair da encrenca que você se meteu.
Depois de assistir um “tutorial sobre mergulho” você colocaria cilindros nos seus filhos para realizar um mergulho de profundidade?


Ajuda dos amigos
Aprender a velejar com algum amigo não é uma má ideia e não haveria problema nisto desde que ele tenha cursado uma escola de vela no passado.
Teria que ter alguma dose de paciência e um pouco de didática para conseguir se fazer claro.
Teria que obedecer a um programa mais ou menos lógico, pois de nada adiantaria ensinar a colocar a vela balão antes de ensinar orçar e arribar, aproar e desaproar etc.


O velejador francês Eric Tabarly escreveu uma frase em seu livro Memória do Mar e que faz todo o sentido refletirmos nesse momento:

“Navegar é uma atividade que não convém aos impostores. Em muitas profissões, podemos iludir os outros e blefar com toda a impunidade. Em um barco, sabe-se ou não. Azar daqueles que querem se enganar. O oceano não tem piedade.”


Aprender a velejar de verdade
A maneira mais tradicional para aprender a velejar é através das escolas particulares.
A segunda maneira é através das escolas de vela dos clubes náuticos.
A terceira é através da contratação um instrutor particular para você aprender no seu próprio veleiro.

Escolas e locais ideais
Existem excelentes escolas vela oceânica espalhadas por todo o país.
O mais importante ao escolher uma escola é conhecer a experiência dos instrutores.
A segunda coisa mais importante é escolher um local onde vente de verdade (Floripa, Ilhabela e Búzios são bons exemplos), pois “mar calmo não forma bons marinheiros”!
Ventos fracos não ensinam as técnicas necessárias para velejar com segurança em condições difíceis.

Metodologias atuais
As melhores escolas de vela do mundo seguem praticamente os mesmos padrões de ensino com ênfase nas aulas práticas.
Os materiais de apoio são enviados com antecedência para que o aluno se familiarize com alguns termos que vai encontrar na aula.
Perder tempo com teoria faz parte da metodologia antiga e desatualizada.
Deixamos a teoria para você ler em casa.
Os cursos estão muito mais dinâmicos e voltados para “o aprender fazendo”.


Objetivos
O objetivo de uma escola de vela não é apenas ensinar a velejar e sim levar o aluno à perfeição na execução das manobras de um veleiro.
A consciência dos movimentos faz com que eles ocorram de forma natural e evita as consequências de manobras mal executadas.
Cada técnica é repetida muitas e muitas vezes até o aluno alcançar a performance projetada pelo instrutor.

Mitos
Muita gente pensa que velejar é complicado por causa daquela quantidade enorme de nomes difíceis.
As metodologias atuais aboliram a “decoreba” e não dão mais ênfase à nomenclatura.
Focamos na nomenclatura específica para cada fase do aprendizado, sem a pretensão de fazer o aluno decorar o dicionário inteiro.
Devemos aprender aos poucos, dia após dia.



sexta-feira, 27 de março de 2020

O acesso à vela no Brasil


Foto Escola de Vela Oceano na Marina Itajaí - veleiro de travessia oceânica



Por Marcelo Visintainer Lopes – Escola de Vela Oceano

Instrutor de Vela e Consultor Náutico


Muitas pessoas reclamam com razão da dificuldade de acessar os espaços que oferecem a prática da vela.
Querem chegar perto de um veleiro, mas o clube é fechado.
Querem informações sobre determinado barco que viram lá de fora e não conseguem entrar.
São fatos... O Brasil não está preparado para receber pessoas que buscam informações sobre veleiros e sobre o mundo náutico.
Informações virtuais ok, está tudo lá. Só que a pessoa quer ver de perto, quer saber como funciona, quer saber quanto custa e mais do que isto quer conversar com um velejador e trocar uma ideia.
Conheço poucos lugares que são abertos para isto. A minha marina em Santo Antônio de Lisboa - Florianópolis é um destes espaços abertos que qualquer pessoa pode chegar e bater um papo. O problema é que os barcos estão apoitados lá fora, mas mesmo assim é possível que com uma boa conversa você convença um proprietário a te mostrar o seu barco. O pessoal é bem receptivo e tem algumas pessoas que moram a bordo e que estão sempre por lá.


O acesso físico a uma marina pública ou particular

Por não serem consideradas associações esportivas e sim espaços para guardar embarcações, o acesso é permitido mediante identificação.
Costumam realizar visitas guiadas, já que o objetivo é locar espaços.
Quando restam muitas vagas para locação a recepção costuma ser bastante cordial, mas quando a marina está lotada é diferente.
De todo jeito, só indo até uma delas para descobrir. O ideal é fazer contato prévio para evitar constrangimentos.
Existem boas escolas de vela sediadas em marinas e o seu acesso é livre.


O acesso físico ao clube

Os clubes de vela são restritos aos associados e seus convidados.
São socialmente fechados exigem a indicação de sócios mais antigos para você conseguir se associar.
Por outro lado as escolas de vela foram obrigadas a permitir o acesso de “não sócios” devido à necessidade permanente de atletas para as categorias de base.
Esta talvez seja a sua chance de visitar a escola e depois o clube.


Fora dos clubes e marinas - o acesso virtual

Antes do surgimento da Família Schurmann e do Amir Klink o interesse pela vela era bem pequeno e até o número de praticantes era insignificante se comparado a outros esportes.
Logo que a fama os levou à TV o interesse pelos temas ligados à navegação cresceu bastante. O misterioso e encantador mundo da vela finalmente chegou aos lares brasileiros.
Os dois sobrenomes continuam sendo as principais referências nacionais na vela de aventura e o serão por toda a vida.
O interesse pela vela só cresceu de verdade quando a internet começou a proporcionar grandes quantidades de conteúdo náutico.
A demanda por barcos novos e usados aumentou e a demanda por cursos de vela, passeios e travessias também.
Os canais no Youtube possuem cada vez mais seguidores e vão de vento em popa.
O que mais possui destaque nas águas brasileiras e o que mais encanta é o #HASHTAGSAL, do casal de velejadores Adriano e Aline.
Suas entrevistas, sempre descontraídas e interessantes, conseguem difundir o esporte muito além do que se possa imaginar.
Demonstram com simplicidade e sem nenhuma pretensão, que qualquer pessoa comum pode sonhar em um dia ter um veleiro.
Para as escolas de vela o momento é especial. Nunca se falou tanto em velejar e em morar a bordo como agora.
Definitivamente a vela está na moda!
Parabenizo a todos os canais pela contribuição de divulgar cada vez mais as belezas e o fascínio do esporte da vela.


Mudanças no ar?

Se você ainda está com dúvidas sobre começar a velejar e ainda tem algum receio de uma mudança de rumo eu vou apresentar apenas dois ou três benefícios. A lista poderia ser gigantesca, mas não é necessária agora.


Melhoria na qualidade de vida

Talvez você até tenha um estilo de vida bacana e confortável na cidade, mas nada se compara à tranquilidade e ao ar puro que vem do mar e das montanhas.
Quando velejamos, a sensação de prazer e liberdade produz alterações químicas no nosso cérebro e por esta razão sentimos euforia e felicidade (Dopamina, Serotonina e Noradrenalina).
O meu argumento preferido e que considero o grande diferencial da vela em relação a outras modalidades é a sensação de pertencimento a um grupo.
Somos uma grande família!
Se você chegar hoje, amanhã já se sentirá fazendo parte dela.
É uma coisa SEM EXPLICAÇÃO!
Estamos sempre prontos para ajudar alguém e sempre haverá alguém pronto para nos ajudar!
O veleiro nos torna mais gentis e mais agradecidos, mais solidários e mais cooperativos.
Este é o espírito marinheiro que está dentro de cada um de nós.
Seja feliz e mude para um veleiro!

quinta-feira, 26 de março de 2020

Morar em um veleiro - você se adaptaria?

Foto: Veleiro Escola Oceano VI num final de tarde na Praia do Tinguá



Clique no link abaixo e baixe o PDF


Por Marcelo Visintainer Lopes – Escola de Vela Oceano
Instrutor de Vela e Consultor Náutico

A ideia de morar a bordo de um veleiro encanta muita gente. Cada vez mais e mais pessoas estão deixando o conforto dos seus lares para viverem ancorados em alguma baia paradisíaca.
É a vida corrida da cidade e a busca por um estilo de vida mais saudável e ligado à natureza que acaba levando as pessoas para próximos do mar.

E você se adaptaria ao espaço pequeno e ao confinamento de um veleiro?

Boa parte dos que tentam acaba se adaptando, mas se você puder descobrir isto antes de largar seu emprego e vender tudo seria bem mais sensato.
A dica que para economizar tempo e dinheiro é não fazer muitos planos sem antes ter a certeza que vai se adaptar.
Conheço diversos casos de pessoas que investiram anos de suas vidas construindo seu próprio veleiro e que acabaram desistindo por não conseguirem se ambientar.

É melhor não correr riscos...

Pensando assim podemos elaborar um plano para a realização dos primeiros testes.
Saibam que a lógica e a razão que coloco aqui não é o caminho normal das pessoas que compram seu primeiro veleiro.
Por falta de pesquisa e instrução e agindo mais com o desejo do que com a razão, o pessoal acaba encontrando um caminho mais difícil e penoso.
No final ainda acham que foi uma “baita experiência ter passado por tudo aquilo”. Puro consolo, pois tudo poderia ter sido feito em menos tempo e com muito menos dinheiro.

O pior de tudo é dar dicas no Youtube de como fazer tudo errado!
Esta é a parte mais triste, mas para quem nada conhece, parece um experiência incrível.

Fico pensando como isto pode ainda estar acontecendo até hoje. Este sofrimento era atribuído aos nossos antepassados que por falta de informação disponível nas bibliotecas, tinham que descobrir as coisas pela dor.

“Pegar dicas” com quem começou errado e acha que fez a melhor coisa do mundo só confundirão a sua cabeça e o induzirão aos mesmos erros.

Frases do tipo “não existe certo ou errado” ou “é errando que a gente aprende” não existem na vida no mar.
No mundo profissional que eu vivo, desconheço este tipo de afirmação. São apenas um pedido de desculpas pelos erros cometidos.

“Só existe o certo”. O errado passa longe da minha experiência.
“É acertando que a gente não quebra, não sofre e não desiste”.

Meu papel é exatamente este: abreviar o sofrimento, o degaste emocional e o seu precioso tempo.
Um outro exemplo de planejamento equivocado é a pessoa querer se habilitar com a Marinha (Arrais, Mestre e Capitão), antes mesmo de saber se vai gostar de velejar.

Qual o sentido disto?
Conheci diversas pessoas que tomaram este dispendioso rumo e que nunca subiram em um barco, ou por falta de coragem, ou por falta de dinheiro ou por terem descoberto que enjoam caminhando sobre um pier.

Será que o veleiro vai combinar com a sua personalidade?

1. Conheça todas as tarefas
Preparar as velas, verificar o funcionamento do motor, abastecer, lavar, cuidar, mergulhar para realizar limpezas e manutenções no fundo do barco, e aí vai...  Claro que você pode passar longe da maioria destas tarefas mais pesadas pagando pelos serviços.

2. Saiba que a pressa de chegar ao destino não faz parte do jogo
O barco à vela navega lentamente e devemos entender que isto nunca vai mudar.

3. Teste suas próprias limitações (medos, traumas etc.)
Inclinação, balanço, ondas e o vento forte, velejar à noite, não avistar terra firme etc.
Podemos evitar estes itens com soluções simples como velejar só de dia, próximo à costa e em locais abrigados e não sair quando a previsão estiver ruim. O fato é que você terá exposto uma série de limitações e que talvez inviabilizem o seu futuro a bordo.

4. Resiliência - vários planos... A, B, C, D...
Em função da meteorologia, muitas vezes somos obrigados a fazer outra escolha de destino, principalmente para pernoitar em segurança e com conforto.
Por isto é normal que tenhamos em mente a possibilidade de ir mudando de plano a cada nova mudança meteorológica.

Como testar tudo isto na prática?
O teste mais eficaz e direto é fazendo um curso de vela oceânica mais extenso, onde você terá mais chances de enfrentar situações que o tirem da zona de conforto.
Cursos rápidos de um dia não lhe mostrarão a realidade.
Velejar com amigos também não serve. Em um dia lindo de sol e com pouco vento você vai se apaixonar de qualquer jeito. Vai ser um passeio bacana que só o deixará com água na boca.
Para funcionar melhor o amigo teria que ser um velejador experiente e com um dia mais nublado e ventoso. Mesmo assim ele deverá demonstrar, de forma real, como funcionam as coisas no barco.
Alugar um veleiro (charter) com um marinheiro profissional também não é das melhores opções, já que o objetivo do charter é “encantar” você para que retorne em breve.
Se você conversar sério com o skipper (comandante do charter) explicando os seus objetivos talvez ele possa ajudar de uma outra maneira.
Outra opção seria contratar a mesma locação, porém com um serviço extra de instrução de vela e, da mesma forma, deixando claro os seus objetivos.
É aconselhável você buscar boas referências do profissional ou da empresa de charter antes de realizar a contratação.

Quem são as pessoas que sonham morar a bordo
Elas querem ter um contato mais direto com a natureza e levar uma vida mais tranquila, longe da correria da cidade.
A mudança de rumo é o plano da grande maioria, já que os empregos tradicionais já não trazem tanta satisfação pessoal.  Muitas estão insatisfeitas com suas carreiras e o veleiro parece ser a solução mais rápida para sair da rotina e mudar de vida.
Mudanças de rumo são comuns na vida de um velejador. Fazemos isto constantemente, seja para melhorar as condições de navegação, seja para se afastar de algum perigo eminente, seja para se abrigar de uma tempestade ou simplesmente para se adaptar a uma mudança na direção do vento.
Em geral são aposentados, profissionais liberais com flexibilidade de agenda, investidores, trabalhadores remotos, trabalhadores por escala, prestadores de serviços náuticos, solteiros, casados, mais velhos, mais jovens, casais com filhos, casais sem filhos, casais com pets, irmãos, amigos, funcionários públicos próximos da aposentadoria e aí vai...

Deu para perceber que não existe nenhum pré-requisito específico?
Você também é um forte candidato a morar a bordo, basta tentar!