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Prof. Marcelo Visintainer Lopes

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Dicas de Ouro #1

  


COMUNICAÇÃO EFICAZ X PREVENÇÃO


Por Marcelo Visintainer Lopes

Instrutor de Vela - Escola de Vela Oceano

 

Sabe aquele cliente de charter que liga todos os instrumentos e depois abre os seus armários para ver o que tem dentro?

E o cunhado que gosta de ir (sem perguntar se pode) até a proa fazer fotos?

O que dizer do meu sobrinho que só usa a gaiuta de proa para entrar e sair do barco?

O tema de hoje está relacionado ao compromisso do comandante em garantir a segurança de todos.

A comunicação eficaz serve justamente para evitar que coisas desse tipo aconteçam sem o seu total conhecimento e consentimento.

Uma conversa objetiva e bem conduzida será capaz de reduzir a quase zero o risco de acidentes e também os prejuízos materiais.

Ela deverá ocorrer logo após o embarque, antes mesmo das pessoas começarem a colocar suas coisas em qualquer lugar.

Muito cuidado antes de começar!

Existe uma grande diferença entre o comandante zeloso e profissional e o chato de plantão. A diferença está apenas na forma como você se coloca.

Por vezes o comandante prefere o silêncio a passar por chato, mas esta não é uma estratégia segura.

Seja no passeio com a família ou em um charter, a responsabilidade com a segurança é a mesma.

O charter deve ter regras bem definidas (preferencialmente em um site), garantindo que o contratante conheça seus direitos e deveres antes de efetuar a reserva.

O que ocorre com muita frequência é que o contratante não repassa aos seus convidados as normas contidas no site e por isto temos a responsabilidade de brifar tudo antes da partida.

Mesmo que você tenha dado todas as dicas é importantíssimo que acompanhe cada movimento a bordo, sem distrações (um olho no gato outro no peixe).

Ninguém tem obrigação de entrar no veleiro sabendo de tudo e por isto mesmo devemos relaxar com as manias.

Algumas coisas que fogem do controle podem realmente incomodar, mas boa parte delas poderiam passar batidas se não fosse a nossa chatice.

A dica é: controle suas manias e deixe a velejada fluir sem grilos bobos.

A comunicação gentil e bem educada é uma obrigação!

Não devemos insistir em grosserias, pois assim descobriremos rapidamente o significado da palavra “insurgência”.

No passado, os oficiais da Marinha Mercante tratavam muito mal seus marinheiros.

Eles morriam de medo de ser empurrados na água e por isto nunca davam chance para o azar.

Conheço bem este tema, pois na minha adolescência eu viajei para a Europa em um navio de carga.

Não embarquei como marinheiro e sim como convidado do gabinete do Ministro dos Transportes.

O Brasil possuía uma autarquia de navegação - Lloyd Brasileiro (fundada em 1894) que contava com uma frota de mais de cem navios que percorriam a Europa, o extremo oriente e os EUA.

Meu camarote ficava ao lado do camarote do comandante e no refeitório, devido às distinções do Ministério, eu também ocupava a cadeira ao seu lado.

Obs. Em outro momento conto como tive esta oportunidade.

Durante as refeições eu me ocupava com as histórias e dicas sobre os cinco países da nossa rota (Alemanha Oriental, Alemanha Ocidental, Bélgica, Holanda e França), mas as histórias que mais me encantavam eram relacionadas aos marinheiros.

O comandante comentava que não era seguro caminhar no convés, pois eles eram muito traiçoeiros.

Do meu camarote eu observava a manutenção diária da ferrugem no convés e não conseguia acreditar que aqueles trabalhadores eram tão maus assim.

Resolvi descer e conhecer as rotinas da tripulação e logo fiquei sabendo que o líder dos marinheiros era gaúcho (como eu) e que torcia para o meu time.

Pronto, eu já tinha carta branca também no convés.

Aproveitava o bom relacionamento com as duas tripulações (oficiais e marinheiros) para ouvir histórias incríveis.

Fiquei três meses embarcado e pude aprender muita coisa sobre “gestão de pessoas”.

Tirei minhas próprias conclusões e entendi que o medo dos oficiais tinha total fundamento, pois os marinheiros eram realmente perigosos.

Não porque eram bandidos e sim por causa das pesadas e constantes humilhações sofridas.

Por sorte esta parte da história da navegação brasileira está ficando para trás com a renovação dos comandantes.

Hoje em dia ele procuram realizar o seu trabalho de gestão valorizando todos os membros da tripulação por igual.


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