Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela
Escola de Vela Oceano
Você já ouviu ou leu alguma vez a frase “velejar é fácil”?
Tranquilamente ela poderia se tornar um clássico dos para choques de caminhão, de tanto que eu já li por aí…
Para quem já veleja, dizer que “velejar é fácil” é muito natural, mas as pessoas que estão iniciando ainda não conseguem afirmar isto com tanta convicção.
Uma coisa é estar acompanhado de um instrutor que fica o tempo todo fazendo as coisas parecerem fáceis e a outra é fazer sozinho.
Enquanto você não adquirir confiança para resolver seus perrengues de forma autônoma você vai ficar achando exatamente o contrário – “velejar não é fácil”!
Tratar este assunto de forma rasa é pura irresponsabilidade, pois inocentes podem ser incentivados a comprar um barco achando que velejar tão natural quanto andar de bicicleta.
Comprar um barco é a parte mais fácil, mas será que você conseguirá dominá-lo com técnica suficiente para encarar uma tempestade?
Mas eu não vou velejar em tempestades!
Nem precisa, mais cedo ou mais tarde ela vai te encontrar…
Seria menos polêmico se eu dissesse que velejar é fácil e que qualquer pessoa pode ter seu próprio barco, mas prefiro mil vezes saber que ajudei uma pessoa a refletir um pouco mais sobre os seus objetivos de vida do que saber que ela se iludiu com palavras sem verdade.
Velejar poderá se transformar em uma atividade relativamente fácil e natural e para que isto ocorra você terá que explorar todo o seu potencial (habilidades que talvez você nem saiba que possui).
Eu gostaria de fazer você entender e aceitar com naturalidade que talvez você não possua todas as características para chegar ao posto de comandante.
Aprender a velejar e se tornar um tripulante é uma coisa, mas conseguir comandar seu próprio veleiro é outra.
Conhecimento técnico, coragem, iniciativa, equilíbrio emocional, responsabilidade, resiliência, capacidade de resolver problemas e de criar soluções alternativas em situações de pressão etc.
Vai vendo…
Não é à toa que fico chocado cada vez que vejo uma pessoa comprando um veleiro sem nunca ter tido experiências reais que demonstrem suas verdadeiras aptidões.
É meus amigos, acharam que seria mais fácil não é mesmo!?
Uma das muitas técnicas que utilizo para avaliar as capacidades individuais frente a situações desconcertantes é criando o caos no convés e virando as costas (coloco fogo no circo e sento no hidrante).
Também utilizo este tipo de treinamento quando percebo que a turma alcançou uma posição de conforto e confiança em relação ao que já aprenderam.
O caos no convés compreende baixar a vela grande, enrolar a genoa, soltar alguns cabos estratégicos, tirar a chave do motor etc.
Em seguida determino o tempo máximo para as resolução dos problemas, estabeleço um objetivo a ser alcançado e saio de cena…
Consigo avaliar os pontos fortes e fracos individualmente (com precisão cirúrgica) e a partir daí traço as futuras estratégias para fortalecer os pontos fracos.
Ao mesmo tempo que alguns tomam a iniciativa outros simplesmente desligam o disjuntor e isto é algo muito importante de ser levado em conta.
Sim, disjuntores caem e é justamente neste ponto que mais eu preciso focar.
É por isto que estou dividindo esta experiência prática das minhas aulas, pois você precisa identificar a capacidade de carga do seu próprio disjuntor.